quarta-feira, 11 de março de 2009

Em relação ao último post, nomeadamente à última interrogação, há várias saídas: mais académicas e mais estéticas. Prefiro as segundas às primeiras. Porquê?
Quando os alunos me abordam, nas suas ingénuas interrogações dos dezasseis ( o que nem por isso é negativo, estão mais leves...), sobre a pertinência do estudo de Descartes em particular ou de outro filósofo em geral, respondo que também estudam Newton embora, num contexto puramente pragmático, tenha uma relevância residual. E estudam por que a noção de progresso não se compadece com a ausência de história. Procurar os motivos, as razões, as causas, os antecedentes são condições para melhor entender o presente. A vida sem memória não existe; o futuro sem passado é vazio e sem sentido; ou, talvez melhor, o passado ganha sentido com o futuro. Aqui se inscreve a linguagem. O recurso linguístico de um saber exige uma permanente busca da fonte. Muito mais na filosofia! Heidegger dizia que a linguagem é a casa do ser, é o desvelamento da verdade e fora desta linguagem, parafraseando Wittegenstein, nada existe. Assim, o enriquecimento da linguagem é condição da compreensão do mundo; a compreensão do berço da palavra e a causa do entendimento da realidade.
Contudo... na filosofia há mais do que um tempo, há uma intemporalidade. No jogo conceptual há um ritmo esquemático, há uma beleza intrínseca ao texto argumentativo que o ultrapassa. Talvez seja por isso que os alunos, surpreendentemente, gostam de estudar Kant. Não por aquilo que diz, mas por aquilo que não diz. E mais não digo!

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