domingo, 24 de maio de 2009

Ler Filosofia

Em boa hora a colega Luísa Nogueira se lembrou da oportunidade de leccionarmos uma obra filosófica no 10º ano. Com algum cepticismo à mistura, escolhemos a obra Apologia de Sócrates. Curiosamente a resposta que temos tido por parte dos alunos é bastante positiva. Mais um exemplo da relação causa-efeito entre a seriedade e a filosofia. Enquanto andarmos a brincar à filosofia, menos ensinamos filosofia. Quanto mais sujeitarmos os alunos ao recurso primeiro da filosofia, mais reconhecimento esta terá da parte daqueles. O resto é conversa.

domingo, 17 de maio de 2009

Estava em frente à televisão quando vi uma reportagem sobre uma corrida onde participavam, além do nosso Primeiro, alunos das Novas Oportunidades. É curioso, mas de repente intuí a ideia, muito cara a Eduardo Lourenço, quem em Portugal se vive numa permanente representação. Ora, se lançarmos pontes para José Gil, essa permanente representação vincula-se ao seu conceito de inscrição, ou falta dela. Somos um povo que nunca levamos a sério os nossos filósofos e sempre encaramos a literatura como momentos idílicos do nosso Portugal. Por isso também não os levamos a sério. A ideia transposta para um cenário romântico do não sei quê saudoso, embaraça qualquer síntese superior. Por este motivo temos poucos ou nenhuns filósofos. Como é possível leccionar a Filosofia? Proponho uma mudança de planos. A ideia surgiu quando li a aula ministrada por um colega de uma escola no Algarve aos alunos e respectivos pais. Por que não fazermos isto: começar nos pais e acabar nos alunos?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A propósito da comemoração do dia da Europa, a becre vai organizar uma pequena exposição de alunos no âmbito da disciplina de Geografia. É óbvio e natural que as questões subjacentes a esta disciplina (população, instituições, países...) estarão presentes. Como é que a disciplina de filosofia poderá participar? Inicialmente recordei-me de um excelente ensaio de um Professor da Universidade do Minho, Acílio Estanqueiro Rocha, publicado num número da Revista Portuguesa de Filosofia do ano 2002, sobre a História da Ideia de Europa. Por ser um importante e rigoroso ensaio de pendor académico, a tarefa de o tornar acessível  aos nossos estudantes revestia-se de alguma dificuldade. Como simplificar o complexo? Essa talvez seja a nossa tarefa, mas neste caso não parecia ser possível. Até que me surgiu a ideia de um livrinho de Steiner (como gosto de Steiner) cujo título é A Ideia de Europa. Nele se desenvolvem os principais axiomas que, segundo o autor, contribuíram para a ideia de Europa. Talvez a Europa seja isso mesmo, uma ideia. Os cafés, o pedestrianismo, a escatologia, Jerusalém e Atenas, as ruas, são marcas indeléveis de uma Europa que se presta a um contínuo suicídio. Mas também são marcas que se vinculam a uma civilidade sem par e que a faz legítima herdeira das grandes civilizações. Aí está uma forma de simplificar a Europa: expressão de uma ideia que tem as raízes em cinco princípios básicos e cujos atributos se encontram na diversidade.

sábado, 2 de maio de 2009

O Corpo. Um caso.

Hamid Karzai é o actual Presidente do Afeganistão. É ele que dá o rosto por tudo o que vai acontecendo nesse país. A ele me dirijo para, assim que seja possível, estudar um pouco de fenomenologia do corpo. Daí retiram-se sérios e aprazíveis argumentos que contrariam  legislações, ou projectos de, que ferem a inteligência de um ocidental que, apesar de todos os defeitos que se lhe pode apontar, possui uma característica própria do ocidente: a crítica (obrigado Popper!) falsificacionista. Vem isto a propósito de uma lei (ou projecto de) oriunda dos responsáveis afegãos que determinam, entre outras raridades, a presença de legitimidade na violação infligida pelo homem à mulher, quando, e atentem a esta particularidade, estão em situação de matrimónio.
A violação, sendo transversal a todas as dimensões humanas, é, contudo, mais visível quando é aplicada ao corpo. Creio ser esta a dimensão visada pela legislação afegã. 
O corpo, essa carne onde tudo se torna possível, é uma matéria com uma substancial dimensão espiritual. Ele é a presença de linguagem e de simbolismos que, ao contrário do que a nossa matriz nos pretendeu dizer, fornece o verdadeiro significado à vida. Matar o corpo é morrer (afinal o corpo corresponde à nossa imortalidade). Matar o corpo de outrem é um acto de suicídio. Por isso, peço às mulheres afegãs que acelerem o suicídio daqueles falos petrificados. Como? Saiam do Afeganistão. Venham até Portugal, até à Europa ou até à Oceania; percorram o mundo com aqueles imortais olhos verdes. Deixem os tipos sozinhos até à capitulação.