quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Charles Darwin

A nossa escola, associando-se às comemorações dos 200 anos do nascimento de Darwin, promoveu uma exposição na BECRE sobre o ambiente intelectual do século dezanove, centrando-se na ideia geral de EVOLUÇÃO. Não nos fixamos somente nas ideias inovadoras de Darwin relativamente a este tema, mas procuramos enquandrá-las no ambiente filosófico do séc XIX: Hegel, Marx, Malthus, Spencer e Heackel, enriqueceram a Teoria da Evolução das Espécies. O trabalho ficaria incompleto se não avaliássemos, de um modo transversal, as implicações em todo o desenvolvimento intelectual posterior: Nietzsche, Freud e, o que talvez se torna mais importante, a nova visão do mundo que o evolucionismo darwinista nos trouxe quando decretou a sentença de morte aos três grandes mitos: antropolátrico, antropomórfico e antropocêntrico.


A destruição de dogmas


1- O dogma antropocêntrico, onde o Homem

ocupa um lugar central de todo o universo;


2- O dogma antropomórfico, remete-nos para a

divinização do Homem, como sendo criado à

imagem de Deus;


3- O dogma antropolátrico, que consiste na crença da imortalidade da alma.

Também o homem, com os seus estados mentais, é oriundo dessa base comum, com a diferença de se ter adaptado mais rapidamente às dificuldades do meio, desenvolvendo o sistema nervoso central, acrescentando a si a produção imaterial e intelectual. Infere-se daqui a redutibilidade do homem em relação ao cosmos, por possuir uma evolução fundamentada num ponto de vista fisiológico oriunda da génese comum com a totalidade. «O nosso corpo humano - diz Haeckel - formou-se lenta e gradualmente através de uma longa série de vertebrados ancestrais; e o mesmo aconteceu com a nossa alma que, sendo uma função do nosso cérebro, se desenvolveu gradativamente em correlação com este órgão.»


Na Filosofia encontramos em forma de embrião a ideia de evolução:


Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Estugarda, 27 de Agosto de 1770Berlim, 14 de Novembro de 1831)

Filósofo de imprescindível leitura que marcou de forma indelével a nossa civilização, Hegel tornou-se uma referência para quem se debruça sobre a problemática da evolução.
A frase que mais o identifica é: o que é real é racional, o que é racional é real
A realidade funciona da mesma forma que a lógica, modo de ser próprio da espírito.
Qual o modo como a lógica funciona: através da dialéctica? Tese, antítese e síntese.
Qual o modo como funciona a realidade? Tese, antítese e síntese.

Hegel com um sentido arguto, descobre que a história, a natureza, o pensamento possui um movimento contínuo de evolução até um FIM. Para se alcançar este fim, o processo desenrola-se num sentido de permanente confronte entre tese e antítese e finalmente um período de síntese. Para Hegel, toda a realidade se processa deste modo.
Exemplificando:
Na arte: Tese: Arte egípcia; Antítese: arte grega; síntese: arte romântica.

A Arte Romântica seria a arte por excelência, a última arte, a arte que melhor reencarnaria o espírito do mundo (weltgeist).


Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de Maio de 1818Londres, 14 de Março de 1883)

Um dos filósofos que mais influenciou a história do século XX. Bem ou mal, as suas palavras ainda hoje são discutidas acaloradamente, sinal de que a sua obra foi de facto importante.
Independentemente de tudo o que pode ser dito, Marx foi um estatuto interpretador da história, descobrindo nela também uma evolução. A novidade que Marx apresenta é a influência da infra-estrutura (modos de produção, economia) na definição da superstrutura (ideias, política, valores…)
A história é um espelho desta dialéctica:


COMUNISMO
CAPITALISMO
FEUDALISMO


Sentido evolutivo da História
A passagem de uma ordem histórica para outra ordem histórica desenvolve-se a partir de uma revolução, resultante de uma luta de classes. A classe anteriormente dominante, não respondendo às necessidades do momento, é substituída por outra classe social. Também a história tem um fim, o advento do Comunismo.


A IDEIA DE EVOLUÇÃO NA FILOSOFIA E NA HISTÓRIA

Antero de Quental (Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, 18 de Abril de 184211 de Setembro de 1891)

Na obra Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX sintetiza de um modo inteligente o que de mais relevante aconteceu no pensamento durante o século XIX. Colocando nas suas preocupações intelectuais correntes como o Materialismo, Evolucionismo e Hegelianismo, Antero crê que a História da humanidade é uma forma de crescente autonomia até à liberdade moral da pessoa.


A ideia da evolução em TODA a realidade (O MONISMO)


Ernest Ernst Haeckel (1834-1919)
1. Momentos da Ontogénese traduzem as fases da Filogénese.
2. Através de metamorfoses sucessivas, os seres vivos mais complexos podem ser o resultado de outros mais simples.
3. As espécies vivas não são fixas e distintas (como se havia admitido com o fixismo de Lineu-Cuvier) mas variáveis e susceptíveis de transformação.

A irresistível paixão que arrasta Eduardo para a simpática Otília, Páris por Helena, e que triunfa de todos os obstáculos da razão e da moral é a mesma poderosa força de atracção inconsciente que, quando da fecundação dos ovos animais ou vegetais, impele o espermatozóide vivo a penetrar no óvulo; é ainda o mesmo movimento violento pelo qual dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio se unem para formar uma molécula de água»
Haeckel, Ernest; Os Enigmas do universo, trad. Jaime Filinto, 2ª edição, Lello & Irmão, Porto, 1926, p. 6.


Herbert Spencer (Derby, 27 de Abril de 1820Brighton, 8 de Dezembro de 1903)


Adopta o conceito de HEREDITARIEDADE

Encara o evolucionismo como critério supremo da Filosofia

E como instrumento unificador da Ciência.

Leis da evolução:
- Do menos coerente para o mais coerente;
- Passagem do homogéneo para o heterogéneo;
- Do indefinido indeterminado para o definido determinado.

Estas leis aplicam-se de igual forma ao biológico e ao social, com uma diferença:

- Na sociedade, em virtude da liberdade, existe uma maior dispersão das partes constituintes. Nos organismos vivos essa dispersão é menor.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval de 2008 um ponto de vista filosófico-humorístico
PARTE I – O CONTEXTO
Talvez seja interessante começar este texto com um aviso: nunca vivi o Carnaval de Torres, a não ser ouvindo de forma indiferenciada algumas notícias que, aqui e ali, pululavam no emaranhado de informação frívola dos mass media sobre esta época festiva. Por este motivo, comentar este evento poderá ser arriscado, pois tal vai depender, certamente, das reacções dos profissionais da folia.
Não imaginava que o Carnaval fosse tão intensamente vivido numa escola como é o caso da nossa. Contudo, o mais interessante não foi constatar essa intensidade, mas a própria seriedade com que todos nele participaram. Justifica-se esta seriedade?
Os momentos dionisíacos antecedem ou procedem de momentos de privação. Daí o surgimento do Carnaval (carne+vale). A carne, como bem exemplifica esta primeira imagem, é o momento de pecado que, levado ao limite, servirá para preparar o longo período de jejum (40 dias) que antecede a Páscoa. Por este motivo, todos estão com o Carnaval, até as pessoas mais insuspeitas (ou suspeitas?). O mais engraçado é que o poder, que George Orwell tenta ilustrar na obra 1984, não tem humor, como bem ilustra Sócrates na imagem . Esta sisudez, bem presente no pinoquínio nariz é um poder que priva o riso, oprime o humor e a inteligência. Sim, porque não há melhor forma de expressar inteligência do que saber rir, principalmente de nós mesmos.
A forma mais proeminente do exercício do poder é bem exemplificada na situação em que qualquer semelhança entre a realidade e a ficção é mera coincidência, isto é, qualquer semelhança entre o primeiro, o poder, e a ASAE é pura coincidência. Só ainda não entendi porque razão o robe fez parte da indumentária do folião da ASAE. Será com o intuito de convidar Sócrates para cenas mais íntimas, ou para ilustrar a intimidade do poder com os seus agentes? Bom, a resposta ficará para cada um. O Carnaval também serve para a orgia intelectual e imaginativa.
Há alguma relação entre o jejum e a paródia feita ao governo Sócrates e respectiva equipa educativa ministerial? Continua a haver coincidências intrigantes.
O que não se percebeu realmente foi as relações perigosas entre os poderes presentes naquele dia e naquela escola. Uns, objectos da paródia, os outros, em defesa dos oprimidos. O poder escolar foi de Zorro, acrescente-se que não era aquele Zorro do Banderas, eram muitas Zorras. O Zorro só por si era perigoso para os foliões, muitas Zorras é quase o fim do mundo.

PARTE II- OS ACONTECIMENTOS

O Madeiródromo estava a compor-se. Havia profissionalismo. Era fácil constatar a forma quase natural como as pessoas se cruzavam, se riam. Era como isto já fizesse parte da sua vida, era como o seu código genético possuísse a combinação Carnavalesca. Para quem de fora observasse, isto é, para quem se sentisse extraterrestre, usar uma peruca revestia-se de um acto de afirmação pessoal, quase transcendental, tamanha era a introversão. Se não os consegues vencer, junta-te a eles! Aprendi então lugares comuns destas situações, nomeadamente a linguagem: «estás toda boa!», «estás toda boa!», «estás toda boa». É verdade, foi a expressão mais comum. É verdade, sempre no feminino. Aprendi que, de facto, o Carnaval da Madeira Torres é um carnaval de afirmação do feminino, exceptuando as Zorras e as bandidas. O surgimento das designadas matrafonas era recorrente. Alguns ainda tentaram imprimir alguma testoterona, mas ficaram pela banda desenhada. Assistiu-se, inclusive, à tentativa de alguma masculinização, objectivo não conseguido, pois eram jeitosas (os). Mas qual foi a real intenção destas Metralhas? Antecipar o acontecimento no Carolina? Quiseram dizer que vamos todos presos? Há alguma relação entre o poder de Zorro e a desenvoltura mediática das Metralhas? É outro enigma que cabeças pensadoras facilmente encontrarão resposta. Eu, pessoalmente, não!
Além de tudo isto, houve uma representação que me impressionou.: a gravidez. Foi uma gravidez com alguma gravidade! O que se passa com estes homens???? Ainda por cima, impuseram à sua representação (?) o respectivo parto, sem dor, com as águas a provocarem uma pequena inundação.
A cada instante da exibição no Madeiródromo sentia-me cada vez mais familiarizado com a situação. Aos poucos ia aprendendo que eu é que estava mascarado, na medida em que não tinha qualquer máscara. Eu é que era ridículo, porque não ridicularizava. Eu é que fazia figura de parvo, porque não aparvalhava…
Os acontecimentos sucediam-se em catadupa, mas sempre com uma desorganização organizada. Esta foi, aliás, uma das principais características deste Carnaval. O aparente caos ocultava uma ordem estabelecida. Parecia que todos sabiam os seus papéis, quer nas formas espontâneas como se exibiam, quer nas coreografias ensaiadas.
Fora da coreografia estavam uns senhores com gravata. Inicialmente pensei que essa mesma gravata fazia parte da paródia. Ainda recorri a alguns préstimos. Contudo, perante tal absurdo, os meus interlocutores olhavam-me com desdém ou com o sentimento de pena. Resolvi então investigar. Depois de algumas diligências junto de alguns alunos descobri que…não sabiam. Esta inocência hormonal, onde os pseudo-problemas não existem, revelaram-me uma coisa óbvia: não se fazem certas perguntas! Imaginem só a expressão de um aluno quando se lhe pergunta sobre a existência de alguém com gravata! É neste tipo de situações que o professor perde discernimento e respeito por parte dos alunos. Mas também era Carnaval…

PARTE III – EPÍLOGO

Para mim este Carnaval foi uma autêntica sala de aula. Além de muitas outras coisas aprendi uma aspecto essencial: o Carnaval da Madeira Torres é um momento único. É único pela ambiência que cria à sua volta e único porque nega o humor sistemático e calculado, onde as pessoas são obrigadas à participação. Não, o Carnaval da Madeira Torres é um local de espontaneidade e, simultaneamente, de respeito pela diferença, contra o humor estereotipado, fabricado, onde todos são obrigados a participarem. Não será exagero dizer que, enquanto o humor está em decadência face à sua industrialização, na Madeira Torres o riso é mais autêntico: está no interior de cada um.
Será o último reduto da liberdade face ao Big Brother power?
Estou agora aqui a pensar como hei-de acabar este texto. Gostaria de ser diferente e não utilizar aqueles lugares comuns que fazem parte dos grandes discursos. O que de mais imaginativo me ocorre é propor para Titular os seguintes elementos: Dinis Martinho, Elsa Caldeira, Paula Paulo, Fátima Prates, Elsa Tomás. Em virtude da imaginação e do bom gosto evidenciado, os seguintes elementos não preencheram os requisitos mínimos do cinzentismo exigido para este título nobiliárquico: Luís Filipe Marques da Silva e Rosário Cadete. Para o ano há mais!