domingo, 17 de maio de 2009

Estava em frente à televisão quando vi uma reportagem sobre uma corrida onde participavam, além do nosso Primeiro, alunos das Novas Oportunidades. É curioso, mas de repente intuí a ideia, muito cara a Eduardo Lourenço, quem em Portugal se vive numa permanente representação. Ora, se lançarmos pontes para José Gil, essa permanente representação vincula-se ao seu conceito de inscrição, ou falta dela. Somos um povo que nunca levamos a sério os nossos filósofos e sempre encaramos a literatura como momentos idílicos do nosso Portugal. Por isso também não os levamos a sério. A ideia transposta para um cenário romântico do não sei quê saudoso, embaraça qualquer síntese superior. Por este motivo temos poucos ou nenhuns filósofos. Como é possível leccionar a Filosofia? Proponho uma mudança de planos. A ideia surgiu quando li a aula ministrada por um colega de uma escola no Algarve aos alunos e respectivos pais. Por que não fazermos isto: começar nos pais e acabar nos alunos?

2 comentários:

Carlos Pires disse...

Há imensas coisas erradas em Portugal, nomeadamente na educação. Ensinar Filosofia não é fácil. Do "eng." Sócrates e das Novas Oportunidades não é fácil falar sem rir. De acordo.
Mas duvido muito que as análises do José Gil ajudem a compreender esses fenómenos.
José Gil refere (numa linguagem nem sempre clara) certos comportamentos e traços de personalidade que caracterizam alguns portugueses - porventura muitos portugueses. Mas ao referi-los fala, não de alguns portugueses, mas sim d' "os portugueses" - como se tivesse a descrever a essência do português.
Mas como chegou ele a essa essência? Estudos empíricos não fez, pois caso contrário tê-los-ia referido. Terá sido alguma intuição supra-sensível inacessível ao comum dos mortais???
Desconfio que se trata apenas de uma generalização precipitada. Uma mistura de má sociologia com péssima filosofia.

FilosMadTorres disse...

Calos Pires, obrigado pela sua reflexão! A essência do português exige uma perspectiva quase intuitiva, onde não se deve omitir a produção literária e filosófica em Portugal. Evidentemente que o empírico também estará presente, nomeadamente em dados provenientes, quer da experiência pessoal quer de outros dados. Compreendo a sua ideia de que Gil constrói «uma má sociologia com péssima filosofia», mas também certamente compreenderá que muitas das ideias difundidas por Gil encontramo-las em Lourenço ou Quental. Acima de tudo, Gil desenvolve outros conceitos que, apesar de não ser de grande alcance metafísico ou psicanalítico, tem o seu fundamento, nomeadamente a ideia de não inscrição. Obviamente que não entro nas análises catastrofistas que avaliam o ser português de um modo fatalista. Basta para isso ver toda a controvérsia presente em França à volta da figura de Sarkosy. Mas não devemos impedir que certas reflexões promovam novas formas de questionar o que é ser português.
Mais uma vez, obrigado pelo seu comentário.