sexta-feira, 17 de julho de 2009

PoderIII

Levi strauss: A escrita e o poder.

Em Tristes Trópicos, Levi Strauss, através da sua epopeia junto dos Nambiquaras apresenta a situação da escrita face à cultura. Numa perspectiva empírica somos levados a considerar a escrita algo como concernente à expansividade intelectual em detrimento do carácter sociológico. Ora, Strauss demonstra a predominância deste face ao intelectualismo. O chefe, aquando da apresentação do lápis e do papel, facilmente depreendeu a utilidade da escrita embora não tenha exercido qualquer intenção significativa. Embora «o seu símbolo fosse utilizado, a realidade continuava estranha» (Levi Strauss, Tristes Trópicos, capítulo XXVII). Facilmente se constatou que a utilização de «traços» por parte do chefe serviu, acima de tudo, para a efectivação do poder. Strauss descreve a cena de tal forma que nos transmite uma imagem do que seria a representação do chefe face à escrita e a consequente admiração de que era alvo pelos seus súbditos. Esta descrição levou Strauss a demonstrar, através de exemplos históricos, a função primordial da escrita: manutenção do poder. Poder-se-ia objectar esta ideia a partir da constatação da importância da escrita no desenvolvimento científico dos séculos XIX e XX. Contudo, Strauss diz que a escrita é condição necessária mas não suficiente (Levi Strauss, op.cit), na medida em que o período com maior desenvolvimento humano – neolítico – não coincidiu com a descoberta da escrita. Desta forma, a escrita sugere um rosto de manifestação imperial e manutenção de territórios. Inclusive, a luta contra o analfabetismo possuiu uma intenção que visava, acima de tudo, o reforço e o controlo do poder. Porquê? Por que «ninguém pode ignorar a lei» (Levi Strauss, op.cit).

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