segunda-feira, 13 de abril de 2009

A angústia

Recomeço das aulas significa relançar a esperançar, encher o corpo de motivação dar asas ao desejo. É esta permanente fuga da realidade que faz de nós, humanos, uns seres imprevisíveis. O problema está na dessincronização entre o Real e o real. Quanto mais esquecemos o Real, mais dificilmente o encaramos. Este esquecimento é directamente proporcional ao real criado que depende de nós. Ensinar (que me desculpe o eduquez) encontra aqui toda a sua angústia existencial. Um professor tem actualmente que tentar encontrar uma situação de equilíbrio: entre a necessária e indispensável mecanização do discurso e dos recursos conceptuais nele presentes, o processo de promoção de sinapses (ao que se torna necessário um conhecimento próprio do modo como o nosso cérebro funciona) e a tão abragente motivação. Vem isto a propósito da temática do 10º ano de escolaridade que o nosso departamento guardou para este terceiro período: a dimensão política com o inevitável recurso a John Locke e Thomas Hobbes, dois contratualistas clássicos, preparando o terreno para a exigente tarefa de ensinar Rawls. Numa ida proveitosa a uma grande superfície (o ar estava respirável) deparei-me com um livro elaborado a propósito da série Perdidos e onde se produziam análises filosóficas, nomeadamente no que se refere a dilemas éticos e à problemática contratualista do Estado Natural e Positivo. Este tem sido o meu trabalho. O problema é o ponto de equilíbrio entre o Real e o real.

2 comentários:

Sara Gonçalves disse...

Esse é, de facto, um grande problema. Quantas vezes esquecemos o Real e passamos a viver de encontro àquele outro real que criámos? E quantas vezes abandonamos o real para nos concentramos apenas no Real, esquecendo-nos que o outro também é importante? A angústia vem da falta de equilíbrio. Minha, sua e de todos nós. Somos seres imperfeitos em busca de uma imperfeição inatingível.

Sara Gonçalves disse...

*perfeição inatingível, aliás.